Era 1958. E parece 2012/2013
(...) Repetia-se no Nordeste o fenômeno cíclico de uma grande seca. Durante algum tempo, a população nordestina, percebendo a ausência de qualquer chuva, estivera olhando o céu, num misto de terror e perplexidade. Não se viam nuvens, e o sol, como um braseiro errante, realizava seu curso, atravessando o firmamento de ponta a ponta.
O camponês, ilhado na sua casa, assistia ao dramático espetáculo, sem nada poder fazer. O gado morria. As plantações secavam. O paiol ficava vazio. Para tornar ainda mais cruel aquela agonia, o fenômeno não era repentino. Tratava-se de uma desgraça, que era um suplício chinês. Insinuava-se de mansinho, aumentando a poeira nas estradas, reduzindo a água das cisternas e emagrecendo aos poucos o gado.
Enquanto o nordestino esperava, via a paisagem que o rodeava transformar-se aos poucos. As folhas caíam. A caatinga assumia uma coloração cinzenta. Aqui e ali viam-se reses mortas. E os córregos e os rios? Lá estavam torcicolando ao longo das chapadas. Nas suas margens, ainda resistiam certos arbustos, buscando sofregamente a já não existente umidade do solo. O gado derivava para ali e tentava matar a sede, lambendo o barro que lhe dilacerava o focinho. No leito, propriamente dito, não havia água. Estava seco desde muito.
Em Pentecostes, no Ceará, o comércio fechara as portas, temeroso de que tivesse início a pilhagem. Nas ruas da cidade, 10 mil flagelados vagueavam, pedindo água e pão. Outros 10 mil estavam concentrados em Iguatu, e imploravam trabalho. O que ocorria no Ceará se reproduzia no Rio Grande do Norte, na Paraíba, no Piauí e em Pernambuco. Havia fome e desespero por toda parte.
Finalmente, o dia de São José chegara. Chegara e se fora, sem que as chuvas caíssem. A impassibilidade da natureza era um aviso. Em seguida, uma ordem inaudível, transmitida de ouvido em ouvido, percorrera todo o Nordeste. Era como um telégrafo sem fios que comandasse: “Salve-se quem puder!” (...)
***
O relato acima não saiu das páginas da literatura regionalista, mas do livro da história, na pena do ex-presidente Juscelino Kubitschek. É sobre a seca de 1958, no Nordeste. Ele está nas páginas de 164 a 166 do livro “Por que construí Brasília”, lançado em 1975, pela Editora Bloch, e relançado em 2009, pelo Senado. Em uma próxima edição, reproduziremos o trecho do livro no qual o presidente retrata o quadro da seca que ele viu de perto e que o levou a criar a Sudene.
Fonte: (diário Do Povo)
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